O desenho analisado representa
uma perspectiva da fachada da Escola de Arquitetura. O ângulo escolhido
permitiu uma representação do prédio em que a perspectiva do edifício, ainda
que exista, não seja o elemento mais evidenciado da imagem, sendo esse o plano
vertical da fachada, emoldurado por elementos naturais: árvores em ambos os
lados e o jardim em baixo. Essa disposição de elementos gera uma composição harmônica
e bem-enquadrada. Há, por outro lado, um enquadramento externo ao desenho, uma
vez que a representação não ocupa a pagina inteira, sendo demarcada por uma linha simples. Tal enquadramento não é feito de maneira
óbvia, com um retângulo centralizado dentro do outro, mas de modo assimétrico,
criando uma faixa larga na direita, ocupada apenas pela assinatura da
desenhista, Nathália Mendes. Esse todo, que compõe o preenchimento da página, é
equilibrado e colabora para a expressividade da obra.
A imagem não apresenta excesso de
detalhamento; as plantas do jardim são desenhadas com traços rápidos, o profeta
é representado basicamente pela silhueta e a transparência do vidro não é explorada,
de modo que até a Vênus de Milo, observada em outros desenhos apresentados, foi
ignorada. O que importa parece ser passar ao observador as informações básicas da
vista externa, em que se pode diferenciar, por exemplo, as superfícies do chão
da entrada, do gramado e do banco, representadas com traços e tons de cinza
diferentes. Esse uso racional na escolha daquilo que deve ou não merecer
atenção na representação cria uma composição fluida e natural; mais riqueza de
detalhes, adicionados a fim de enriquecer a obra, a faria perder seu caráter leve,
ao passo que uma economia ainda maior prejudicaria a representação da impressão
que se tem ao se olhar para a vista. Desse modo, tem-se uma composição
equilibrada, que preenche bem a “moldura” retangular que se propõe a ocupar
sem, no entanto, sobrecarregar a representação com pormenores pouco importantes
para o efeito geral criado, o que colabora, uma vez mais, para a expressividade
da obra e o belo efeito geral que ela cria.
Por outro lado, ao analisarmos o
canto direito do desenho, observamos que alguns galhos da árvore excedem a
linha da “moldura”, do que se pode supor uma intenção inicial de prolongar a
vista da representação, um planejamento depois alterado. Se a hipótese se
confirma, todo o esquema do enquadramento, elogiado acima, não estaria nos
planos iniciais da artista, mas resultaria numa mudança de ideia posterior. Outra observação tirada da visualização da
árvore é relativa à continuação das linhas horizontais da parte de cima da
fachada, que avançam sobre os dois primeiros galhos da planta. Essa
sobreposição pode indicar que o prédio foi desenhado antes, e sua representação
não levou em conta a posição real que os galhos, elementos que foram
adicionados posteriormente, ocupariam, caracterizando uma falha ao planejar a disposição
desses elementos. Esses possíveis deslizes ao se elaborar o uso do espaço no
papel são pontuais e não prejudicam a beleza da imagem; podem ser interpretados
como vestígios do modo como ocorreu a construção da composição.
Crítica de um verdadeiro crítico
ResponderEliminar